A assessora especial Kátia Luiza de Freitas, da Secretaria Adjunta de Ouvidoria Geral e Transparência; a chefe do Núcleo de Gestão Estratégica para Resultados, Simone Câmera, e a auditora do Estado Cristiane Laura de Souza, da Superintendência de Análise Correcional, contam um pouco sobre suas experiências, rotinas, expectativas e alegrias que envolvem a maternidade solo.
Mãe adolescente
Aos 16 anos, a servidora Kátia Luzia de Freitas estava grávida de sua primeira filha Laleska, hoje com 28 anos. Na época, Kátia disse que foi um choque e uma mudança inesperada na sua vida, afinal, de uma estudante do ensino médio, se tornou mãe.
“Eu fui mãe cedo, aos 16 anos. Como era adolescente e estudante, não tinha profissão quando engravidei. A partir daí, fui obrigada a encarar a vida. Laleska tinha só dois meses de vida quando comecei a trabalhar. Levava ela comigo para o trabalho. Estava trabalhando como doméstica e foi um período complicado. Não conseguia conciliar o trabalho doméstico e cuidar da minha filha. Até que um dia o patrão me chamou e disse que não a levasse para o trabalho”, lembra.
Mãe adolescente, sem poder contar com a presença do pai da bebê, Kátia descobriu uma rede de apoio familiar. “Quando meu patrão disse que não poderia levar minha filha comigo para o trabalho, precisei de ajuda. Foi quando recebi o auxílio dos meus pais e comecei a deixar Laleska com a minha mãe. Foram muitos obstáculos e momentos difíceis, mas com apoio da minha mãe, do meu pai e dos meus irmãos, consegui criá-la”, relatou.
Kátia Freitas lembra que, na sua adolescência, faltava acesso à informação e havia ausência de políticas públicas de prevenção à gravidez precoce. “Naquela época, morava com meus pais e nós não conversávamos. Não tínhamos acesso à internet e as facilidades de se ter informação nas mãos com o uso do celular. Os postos de saúde hoje distribuem gratuitamente preservativos e anticoncepcionais”, ressaltou.
Além da filha Laleska, Kátia é mãe de Alexandre, de 16 anos. A sua experiência com o caçula foi bem diferente, já que o pai do seu segundo filho é presente e participativo na vida de Alexandre.
“O pai do Alexandre é um pai muito presente na vida dele. Os desafios são muitos de criar dois filhos tendo que trabalhar, estudar e cuidar de casa, tem que saber lidar e ter muito jogo de cintura. Deixei de ir em muitas reuniões de escola da Laleska. Até hoje sofro amargamente por não ter participado. Já com o Alexandre tenho com quem dividir essa responsabilidade e ser mais participativa”, se emocionou.
Apesar das adversidades, Kátia afirma que ser mãe foi o melhor acontecimento da sua vida. “Temos que saber conciliar ser mãe, educar, cuidar, estudar, trabalhar. Por outro lado, ficamos desgastadas. Mas eu me considero uma vencedora. Passei por muita coisa, como dificuldades financeiras com a Laleska. Mas tenho muito a agradecer a Deus e a minha família. Tudo que passei serviu de aprendizagem e quero dividir com outras mães. A maternidade é maravilhosa e faria tudo novamente”, assegurou.
Carreira estabilizada
Créditos: Arquivos pessoas. Ilustração: Comunicação/CGE-MT
Independente financeiramente e servidora efetiva do Poder Executivo do Estado de Mato Grosso, Simone Câmera teve nesse contexto seu filho Carlos Henrique, atualmente com 18 anos.
“Tive meu filho Carlos Henrique com 31 anos. Possuía uma vida profissional sendo servidora do Estado. Quando ele nasceu, em 2005, já fazia parte da administração pública desde 2002. Ter um filho não me limitou em absolutamente nada. Na época, tinha sido designada para a Corregedoria da Sesp (Secretaria de Estado de Segurança Pública) e tinha que viajar. Depois fui para a Sema (Secretaria de Estado de Meio Ambiente) e passei um ano viajando. Meu filho Carlos Henrique ficava na ponte aérea Cuiabá/Salvador para ficar com a avó ou ela vinha para cá. Ele tinha um ano e meio quando comecei um curso de Direito”, revelou.
Para ela, as dificuldades que passa e passou não são diferentes das que as demais mães enfrentam na sua rotina, independentemente de se ter ou não um marido ou o pai da criança ao lado. Simone destaca que o ato de ser mãe é único e exclusivo, pois, nos momentos mais difíceis no desenvolvimento de uma criança, será sempre a mãe a estar ao lado do filho cuidando e o protegendo.
“O ato de ser mãe é só entre ela e o filho. Mesmo que tenha o suporte da família, na hora “H” é a mãe e o filho. Então, na hora da amamentação, do olho no olho, da dor, da cólica, da dentição nascendo, da primeira gripe, é a presença da mãe que vem em primeiro lugar”, avaliou.
Quanto à maternidade, para Simone Câmera o desafio se evidencia em relação às inseguranças quanto à educação e os valores. “Ser mãe tem seus desafios nos momentos de conduzir a educação. Mas sempre tive uma premissa que o educaria com os mesmos valores que fui criada”, ponderou ela.
Para descrever melhor as fases da maternidade, a servidora fez uma analogia com as etapas do videogame, com desafios, obstáculos e muitas recompensas. Ela pontua que em todas as fases da vida, seu filho tem a presença e participação ativa do pai.
“Sempre tive o pai de Carlos Henrique presente me ajudando a decidir sobre essas questões da vida dele. Quando chegou a adolescência, sempre participando. A adolescência de hoje não é igual de antigamente. As informações chegam muito mais rápido, as experiências chegam mais precocemente. Uma vez que li que criar filhos é como um jogo de videogame, porque tem suas fases. Esses dias, Carlos Henrique me mandou uma mensagem dizendo que chegar ao nível 18 é fácil em comparação a vida de adulto. Se para ele está assim agora, imagina para mim anos atrás. Mas, se tivesse que voltar no tempo eu faria tudo igual, passaria pela experiência de ser mãe”, assegurou.
Sonho planejado
Créditos: Arquivos pessoas. Ilustração: Comunicação/CGE-MT
Para a auditoria Cristiane Laura de Souza, a maternidade foi planejada. Ainda assim, a vida trouxe situações inesperadas. Cris Laura, como é mais conhecida, é mãe de Davi, um adolescente de 13 anos.
“Quando Davi nasceu, já atuava há cinco anos na CGE. Davi foi uma gravidez planejada. A minha vida já era estável e até então voltada para a carreira. Quando tive meu filho estava com 31 anos. Me separei do pai de Davi quando ele tinha apenas um ano de idade e acabei me tornando mãe solo”, relembrou.
Ao se tornar mãe solo, deparou-se com várias dificuldades e obstáculos, como a falta de flexibilidade no trabalho e a incompatibilidade com o horário da escola.
“Lembro sempre de uma frase que diz que a sociedade espera que você trabalhe como se não tivesse filho e que cuide dos filhos como se não trabalhasse. Para mim, essa frase é muito verdade. Porém, hoje vejo que as escolas estão mais adaptadas neste sentido, demandam menos, procuram outras formas para facilitar mais a nossa rotina. O fator que pesa muito, especialmente para a mãe solo, é a falta de flexibilidade no trabalho. Nem sempre é compatível com os horários da escola das crianças. Temos um custo a mais para alguém levar ou buscar. Ou temos que entrar mais cedo ou sair mais tarde. Essa falta de flexibilidade pesa sobre mim”, apontou.
Cris Laura faz um apontamento que envolve, em especial, as mães que trabalham fora: a culpa. “Tenho uma lembrança boa e muito forte de Davi na escolinha. Nós mães sentimos culpa porque o tempo que passamos com nossos filhos nunca é o suficiente. Certa vez, fui à escolinha do Davi, creio que ele tinha uns quatro anos. Fizeram para o Dia das Mães um painel de colagem. O meu painel era um batom vermelho, um scarpin, um caminhão e uma arma. O primeiro impacto foi um susto. O das outras mães era panela e bolo. Pensei: “meu filho me vê daquela forma”. Passei alguns anos me monitorando”, recordou.
Ela acredita que a qualidade do tempo com os filhos deve ser o norte das mães. De acordo com ela, Davi está na fase da adolescência e isso é um ponto importante para que ela seja ainda mais atenta e participativa na vida dele.
“Com uns 12 anos, ele disse que eu era diferente das outras mães, pelo que assistia e as preocupações que tinha. Perguntei o que ele achava disso. A resposta dele foi que está tudo bem. E é algo que me tranquiliza. Apesar da nossa dinâmica diferente e corrida, a resposta dele para o nosso modelo familiar é positiva. Mas Davi está na adolescência e esse é o momento de me voltar mais para a maternidade. Porque a adolescência é um momento difícil, sinto que ele está me demandando mais, pede mais atenção”, analisou.
Assim como a maioria das mães, Cris Laura avalia que a mãe exerce uma função social. A qualidade do cuidado, da atenção, do amor, da dedicação, da educação e dos valores que são ensinados forma crianças que poderão se tornar adultos incríveis.
Ela ainda pontua que, para conseguir fazer tudo que faz, teve de compreender que não poderia substituir a figura paterna, já que o pai de Davi é falecido.
“Outra coisa que não tento mais fazer é o papel do pai. Não tenho que acumular essas funções, até porque nunca serei um pai. Eu sou mãe. Quando entendi isso, me tornei ainda mais afetuosa, afetiva e uma mãe muito melhor”, finalizou.
Estatísticas
O Brasil tem 11 milhões de mães que criam seus filhos sozinhas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas. Segundo esses dados, quase 15% dos lares brasileiros são chefiados por mães solo. Ainda cerca de 72% não contam com uma rede de apoio.