O primeiro-ministro da Áustria, Karl Nehammer, anunciou que vai renunciar ao cargo após o colapso das negociações entre os dois principais partidos centristas da Áustria para formar um governo de coalizão sem a sigla de extrema-direita FPO (Partido da Liberdade, na sigla em alemão).
Um dia antes, um terceiro partido, o liberal Neos, abandonou as negociações, culpando as outras legendas por não tomarem as ações que a sigla diz ter solicitado.
“Vou renunciar como chanceler e como líder do Partido do Povo nos próximos dias e permitir uma transição ordenada”, disse o conservador Nehammer em uma declaração em vídeo no X, após conversas com o SPO (Social-Democratas).
O colapso das negociações de coalizão, três meses após as eleições parlamentares de setembro, destaca a crescente dificuldade de formar governos estáveis em países europeus, como Alemanha e França, onde a ultra e a extrema direita estão em ascensão, mas muitos partidos relutam em se aliar a eles.
O FPO, partido eurocético e pró-Rússia, venceu o pleito de setembro com cerca de 29% dos votos. Precisaria de um parceiro de coalizão para poder governar, mas Nehammer descartou aliança com o líder da sigla, Herbert Kickl.
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O presidente austríaco, Alexander Van der Bellen, ex-líder dos Verdes, encarregou Nehammer de formar um governo. Agora que o premiê está renunciando, as duas opções mais prováveis são que Kickl seja encarregado de formar um governo ou que seja convocada uma eleição antecipada.
Nehammer descreveu Kickl como um teórico da conspiração e duvidou de sua capacidade para liderar um governo, mas afirmou que grande parte do FPO é confiável.
Kickl, no entanto, não é um caso isolado dentro de seu partido, que se sobrepõe ao de Nehammer em questões como imigração.
A liderança do OVP (Partido do Povo), sigla de Nehammer, deveria se reunir na manhã de domingo (5) para discutir quem deveria sucedê-lo. Quem assumir provavelmente será mais aberto a uma coalizão com o FPO.
Os dois partidos governaram em coalizão sob a liderança do OVP de 2017 até 2019, quando o então líder do FPO foi derrubado por um escândalo de corrupção gravado em vídeo, o que levou ao colapso da aliança.
O apoio ao FPO cresceu desde a última eleição. A sigla mantém uma vantagem de mais de 10 pontos sobre o OVP e o SPO, mostram as pesquisas de opinião.
Isso representa um dilema para o presidente Van der Bellen, que expressou reservas sobre Kickl se tornar premiê.
O líder do SPO, Andreas Babler, confirmou em uma entrevista coletiva que as negociações haviam colapsado, culpando o partido de Nehammer por tentar economizar em pensões e salários para professores e policiais. Nehammer, por sua vez, apontou para o SPO por insistir em taxar riqueza e heranças.
“Sabemos o que ameaça acontecer agora. Um governo FPO-OVP com um premiê de extrema-direita que colocará nossa democracia em risco em muitos pontos”, disse Babler.
Kickl voltou a criticar a decisão anterior de Van der Bellen de não encarregá-lo de formar um governo. “Alexander Van der Bellen tem uma parcela significativa de responsabilidade pelo caos que surgiu e pelo tempo que foi perdido. Após os eventos de hoje, ele está sob pressão para agir.”
noticia por : UOL