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Cuiaba - MT / 4 de fevereiro de 2025 - 17:59

Cavaquinista Henrique Cazes e violonista Rogério Caetano celebram a genialidade de Waldir Azevedo em álbum

Os músicos Henrique Cazes (cavaquinho) e Rogério Caetano (violão de 7 cordas de aço), além de exímios instrumentistas, compartilham também o fato de serem fãs do compositor e cavaquinista Waldir Azevedo (1923-1980).

À prova disso: gravaram ao vivo, em 2023, e lançaram, no último dia 27, o álbum “Eterna Melodia – Waldir Azevedo 100 Anos”, repleto de músicas bem elaboradas sendo executadas com alto rigor técnico.

O Música em Letras entrevistou, com exclusividade, Henrique Cazes, que esbanja assim como seu companheiro de som muita musicalidade ao interpretarem, no álbum, composições como “Delicado”, “Carioquinha”, “Chorinho Antigo”, “Paulistinha”, “Pedacinhos do Céu”, “Choro em Dó”, “Brasileirinho”, todas de Waldir Azevedo, além de “Eterna Melodia”, de Waldir Azevedo e Hamilton Costa, “Mágoas de um Cavaquinho”, de Waldir Azevedo e Fernando Ribeiro, “Vê Se Gostas”, de Waldir Azevedo e Otaviano Pitanga, e “Quitandinha”, de Waldir Azevedo e Salvador Miceli.

Leia, a seguir, a entrevista e assista ao vídeo, no final do texto, com o cavaquinista Henrique Cazes e violonista Rogério Caetano tocando “Atrevido”, um dos belos choros de Waldir Azevedo.

Sendo o nome do álbum “Eterna Melodia – Waldir Azevedo 100 anos”, qual a importância da melodia nas obras de Waldir Azevedo?

O elemento principal na comunicação de uma música instrumental é a melodia. Waldir Azevedo tinha o dom de criar melodias que mexiam com o público, que ficavam no ouvido e ficaram na história. Essa capacidade de comunicar, que já é forte no autor homenageado, ganha ainda o calor da improvisação, flagrada na gravação ao vivo, dando ao álbum uma energia especial.

Onde e quando o álbum “Eterna Melodia – Waldir Azevedo 100 anos” será lançado? Vocês pretendem vir para São Paulo?

Estamos preparando os primeiros lançamentos no Rio e Estado do Rio para o período após o Carnaval. E já estamos em entendimento para levar o “Eterna Melodia” pelo país afora. Sempre que possível, juntando workshops e atividades didáticas compartilhadas.

Descreva três das doze músicas, do álbum, citando alguma particularidade sobre a peça em questão.

O baião “Delicado”, faixa de abertura, foi gravado em 1950 e se tornou o maior sucesso internacional de Waldir. Levado pelo violonista Laurindo Almeida, foi gravado pela Orquestra de Stan Kenton, na qual Laurindo tocava. Em seguida, uma orquestra bastante popular, a de Percy Faith, gravou-a com enorme sucesso. Em seu último programa de TV, gravado na noite em que morreria em Beverly Hills, Carmen Miranda cantou o “Delicado”, com letra de Aloísio de Oliveira. Enquanto isso, na Itália, a música entrou num filme de Visconti e virou tema de abertura de um programa dominical de grande audiência na TV. Recentemente, “Delicado” apareceu em mais de cinco minutos de cena do filme “O irlandês”, de Martin Scorcese. Mais de 70 anos de sucesso.

Já a música “Carioquinha” foi gravada no primeiro disco de Waldir Azevedo (1949) do lado A, tendo do lado B “Brasileirinho”. Embora a gravadora apostasse mais na música do lado A, foi o “Brasileirinho” que fez sucesso imediato e acachapante.

Quanto à faixa título, “Eterna Melodia”, feita em parceria com Hamilton Costa, é muito representativa da fase Brasília, onde Waldir Azevedo morou nos últimos nove anos de vida. Hamilton era violonista e gostava de bossa nova, harmonias mais trabalhadas e isso mexeu com o jeito de Waldir compor nessa fase brasiliense.

Qual a importância de Waldir Azevedo para a música brasileira?

Waldir mostrou ao mundo que o cavaquinho podia ser um instrumento solista, que tinha muitos recursos e que era capaz de se comunicar com o grande público. Fora a importância para o cavaquinho e o choro, ele respondeu a pergunta: pode uma música instrumental ser ao mesmo tempo elaborada, popular e comunicativa? A resposta afirmativa está na base da perenidade do sucesso dele.

Tocar em duo é para poucos, posto que erros e falhas sempre aparecem. Quais dificuldades você[Rogério Caetano] encontrou em fazer esse registro ao lado de Henrique Cazes e como as superou?

Eu e o Henrique nos conhecemos desde que eu tinha 10, 11 anos de idade. Ele foi meu professor de cavaquinho, que foi meu primeiro instrumento. Já com o violão de 7 cordas e morando no Rio, sempre toquei com ele em gravações e shows e mais recentemente no Coletivo Choro na Rua. É uma intimidade total, uma soltura completa. Vamos inventando e sempre aparece um caminho novo, a cada improviso. Nossa improvisação vai além das variações melódicas usuais, explorando quebras de andamento, dinâmicas radicais, sutis liberdades que só podem ser compartilhadas por quem respira junto, que tem intimidade total com o outro e com a linguagem. É um prazer enorme ficar tão à vontade.

O que o duo procurou explorar melhor dentro da sonoridade produzida pelos dois instrumentos?

O Henrique tem um som de cavaquinho muito especial e personalizado. É diferente do Waldir, mais aveludado, macio. O meu violão de 7 cordas de aço também soa diferente do tradicional e, com isso, temos um duo que é totalmente particular, não parece com nenhum outro, em termos de timbre e interpretação. Essa originalidade é uma força importante nesse trabalho.

Haverá CD físico desse trabalho ou as pessoas poderão ouvir o álbum apenas nas plataformas de streaming?

Planejamos o CD físico para breve, já temos até a masterização adequada. Aliás esse é um detalhe importante do álbum: o Diego do Vale, nosso parceiro na produção e responsável por som e imagens do projeto, estudou as perdas que acontecem com a passagem para as plataformas e fez uma masterização que supera essas perdas, dando ao som da versão de streaming, qualidade do som de CD.

O que mudou no som do cavaquinho que era apresentado por Waldir Azevedo para o som dos cavaquinhos tocados atualmente?

Em média, os cavaquinhos hoje são mais afinados que os daquela época. Mas isso não afetava o Waldir, ele driblava os problemas, fazia efeitos e escondia os defeitos. Um gênio! Hoje um cavaquinho como o que o Henrique toca não precisa esconder nada. Tudo soa muito bem. Aliás é importante dar os créditos dos instrumentos usados: Rogério Caetano usa violão de 7 cordas de aço de Agnaldo Luz e cordas D’Addario e Henrique Cazes usa cavaquinho Tércio Ribeiro e cordas Touro Cavaquinho Especial.

O que as pessoas devem ter em mente quando forem escutar esse álbum?

A gente deseja muito que, além de admirar as eternas melodias do Waldir Azevedo, o público sinta a energia que rolou no dia 13 de dezembro de 2023, naquele palco do ECOSOM Studios. Alegria, paixão, prazer, tudo em grande quantidade. Viva Waldir Azevedo!

Assista, a seguir, ao vídeo no qual os músicos interpretam o choro ‘Atrevido’, de Waldir Azevedo.

noticia por : UOL

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