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Cuiaba - MT / 8 de fevereiro de 2025 - 17:40

Pressão sobre Haddad põe em dúvida capital político do ministro para 2026

Após dois meses de abalos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), esboça uma reação em defesa de sua gestão e de seu capital político, seguindo recomendação do presidente Lula (PT).

Por sugestão de Lula, Haddad vai dar mais entrevistas e viajar pelo país para defender a política econômica.

Em conversas, Haddad admite um período de abatimento após a crise provocada pela disseminação de fake news sobre taxação de operações via Pix. Mas costuma repetir que está de pé.

A esses interlocutores o ministro lembra adversidades enfrentadas em mais de 25 anos de vida pública para afirmar que não “é de entregar os pontos” nem “de baixar a guarda”.

Na palavra de aliados, o ministro virou a chave. Além do aconselhamento de Lula, a contraofensiva nasce da constatação de que, sem a defesa enfática da política econômica no PT, nem na Esplanada dos Ministérios, só ele poderia proteger sua imagem dos ataques da oposição.

Nessas conversas, Haddad lembra sua difícil candidatura à Prefeitura de São Paulo em 2016, ano do impeachment da presidente Dilma Rousseff, também do PT. Candidato à reeleição em um cenário desfavorável, em que acabou derrotado no primeiro turno, Haddad foi às ruas para a defesa de seu legado.

Hoje, atribui a esse esforço seu desempenho nas eleições ao Governo de São Paulo em 2022, na qual foi o mais votado na capital, ainda que derrotado na disputa.

O ministro pôs a estratégia em prática na sexta-feira (7), quando concedeu entrevista a uma rádio de Caruaru, em Pernambuco, e comparou números aos do governo Jair Bolsonaro.

Ao falar sobre o salário mínimo, ele argumentou que não houve ganho real nos governos Michel Temer e Bolsonaro. Segundo ele, o governo Lula retomou a política de valorização “sob protestos do pessoal da direita”. “Você não corrige sete anos de má administração em dois anos”, argumentou.

Ainda de acordo com aliados, pesquisas encomendadas pelo Planalto apontam para uma recuperação da avaliação do governo, o que serviu de estímulo para o ministro.

Afastado o risco de taxação do Pix, estaria ganhando forma a versão de que a oposição se valeu de uma instrução normativa para afetar o governo, segundo esses levantamentos.

Em conversas, o próprio Lula teria admitido que não existe antídoto para proliferação de notícias falsas, prova disso seria a divulgação de fake news sobre taxação de pets depois que o governo anunciou um cadastro nacional de animais domésticos.

Apesar desse esforço de recuperação, ministros do governo reconhecem severo desgaste na reputação do titular da Fazenda, em quem a oposição tenta com êxito colar a imagem de taxador, o Taxadd.

Pesquisa Quaest na última semana aponta alto índice de rejeição do ministro da Fazenda, e seus pares reconhecem que fizeram pouco para preservá-lo —o que acabou atingindo o governo Lula.

Integrantes do governo reconhecem que, hoje, um projeto eleitoral de Haddad para a Presidência estaria inviabilizado, bem como uma candidatura ao Governo de São Paulo.

O ministro tem negado a intenção de concorrer em 2026, com o compromisso de permanecer no governo durante a campanha de Lula à reeleição.

Para preservar o que resta de cacife político dele, aliados de Haddad chegam a sugerir uma troca de ministério, como para a Casa Civil. Mas essa hipótese seria remota neste momento.

Nesses dois anos de governo, Haddad sofreu oposição na cozinha da Presidência, chegando a ter embates com o chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT). E, sob o comando de Gleisi Hoffmann, seu partido chamou a política econômica de “austericida”.

Foi Gleisi quem puxou o rosário de críticas a Haddad e ajudou no Congresso a desidratar o pacote de medidas fiscais, recebido com desconfiança pelo mercado financeiro, após o anúncio, em novembro, ter sido atrelado ao aumento para R$ 5.000 da isenção do Imposto de Renda combinada com a taxação dos milionários. Ela agora se prepara para ocupar uma cadeira ministerial no Palácio do Planalto.

O desgaste do ministro com o pacote dentro e fora do governo aumentou após Haddad, no dia seguinte ao anúncio, durante almoço com banqueiros, ter sinalizado medidas adicionais de contenção de gastos antes mesmo de serem aprovadas.

No mercado, a leitura foi a de um ministro vencido pelo time político de Lula e que buscava apoio dos banqueiros para endurecer as medidas nas votações do Congresso.

No Palácio do Planalto, a irritação foi com o fato de ter sido o próprio ministro a alimentar a visão de que o pacote era insuficiente, enquanto o presidente Lula tinha dado sinal verde para medidas consideradas duras, como a mudança na política do salário mínimo e no abono salarial.

Auxiliares do presidente relatam que ele não gostou do que chamam de processo de vitimização que Haddad faz ao mercado financeiro em defesa de mais corte de gastos, colocando o resto do governo como vilão no debate das medidas fiscais.

Eles afirmam que o ministro precisa mudar o seu jeito professoral e “estilo USP” e se colocar como um vencedor.

A crítica do presidente do PSD, Gilberto Kassab, chamando Haddad de ministro fraco em um evento econômico, no fim de janeiro, reverberou no Congresso, reforçou a percepção de que há um movimento de enfraquecimento do ministro e que até 2026 ele não terá vida fácil no Congresso para passar as medidas econômicas.

Haddad já sentiu, na quarta-feira (5), a dificuldade que terá pela frente na primeira visita que fez ao novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para apresentar a pauta de 25 medidas da agenda econômica no biênio 2025-2026.

O clima foi tenso, e a reação não foi a esperada por Haddad. Foi frustrada a expectativa de usar a oportunidade em defesa do governo

No dia anterior, Motta, considerado pelo ministro um importante aliado da agenda econômica no Congresso, já tinha dado uma entrevista falando que Haddad tinha sido vencido no debate de corte de gastos e que os números da economia eram preocupantes.

noticia por : UOL

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