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Cuiaba - MT / 11 de fevereiro de 2025 - 16:10

Qual a palavra mais feia (e a mais bonita) da língua portuguesa?

Como assim? Este não é um espaço para falar de política? Então como o colunista ousa ocupar um espaço precioso propondo uma reflexão inútil dessas? Se você se fez alguma dessas perguntas, peço calma. Abra um sorriso, me dê a mão e me acompanhe. Ou então leia algum colega colunista que tenha escrito um texto político. Afinal, você é livre.

Pois bem. A dúvida quanto à palavra mais feia da língua portuguesa foi proposta pelo querido André Marsiglia, que logo emendou a resposta: cueca. Por que ele propôs a pergunta não sei, não tenho a menor ideia. Ao que parece, ele estava louco para dizer a alguém que “cueca” é a palavra mais feia da língua portuguesa. Direito dele. E de fato: “cueca” é horrível na sua totalidade e se você a divide ao meio ou pesquisa a etimologia dela a palavra fica pior ainda.

Fronha

A discussão não avançou. Para todos os efeitos, “cueca” foi eleita a palavra mais feia do português e estamos conversados. Mas assim que cheguei em casa fiz a pergunta para a minha mulher, que não hesitou nem por um nanossegundo: fronha. “Nossa, por que você odeia tanto essa palavra?”, perguntei, imaginando algum trauma. “Porque é feia e fanha”, disse ela. E agora não sei se minha mulher se referia à palavra ou a mim.

Realmente “cueca” e “fronha” são horríveis. Mas eu não estava convencido de que eram as mais feias de todo o idioma de Camões e Olavo Bilac e Paulo Polzonoff Jr. Além disso, temia que alguma associação dos tecelões (outra palavra feia!) ou dos cuequeiros ou fronheiros encrencasse comigo. Por isso perguntei a um bando de escritores e as respostas, sem hierarquia de ojeriza (outra!), foram as seguintes:

As palavras mais feias

Cueca
Fronha
Fragrância
Cabeleireiro
Odre
Proxeneta
Recalcitrante
Fúcsia
Furúnculo
Prolapso
Estupro
Caderneta

Pirarucu

Ficamos ali digressando (mais uma!) sobre cada uma dessas e outras tantas palavras citadas. Para mim, “fragrância” ganha de “cueca”. Se juntar as duas, então, tanto pior: imagina a fragrância da cueca! Mas “recalcitrante” não fica muito atrás, não. Parece nome de um cavalo que acabou de dar um coice que jogou longe a beleza do léxico. Por falar nisso, “léxico”.

Entre as palavras citadas pelos nobres amigos, e que não foram incluídas na lista, havia várias de origem indígena. “Pirarucu”, por exemplo. Por quê? Não chegamos a nenhuma conclusão e espero que ainda não tenham criminalizado o particularíssimo gosto por essa ou aquela palavra, independentemente da etimologia. Mas que “pirarucu”, “pereba” e “paçoca” são palavras feias, lá isso são.

As palavras mais belas

Mas e quanto as palavras belas, aquelas capazes de transformar até mesmo uma decisão de ministro do STF em poesia? Eis a lista, novamente sem hierarquia e já excluindo palavras horríveis (“borogodó”, por exemplo) citadas como belas por algum cavalheiro de gosto para lá de duvidoso:

Alpendre
Relicário
Campanário
Melífluo
Vagalume (sem o hífen)
Plêiade
Alpargata (não gosto muito, confesso)
Algibeira

Dessas, ninguém perguntou mas digo mesmo assim: a minha preferida é “plêiade”. Tudo nela é perfeito. Da simples presença do encontro consonantal “pl” até seu significado meio cafona e com aquele cheiro adocicado de mofo, charuto e uísque barato. Sem ignorar, claro, o chapeuzinho do acento circunflexo – o mais circunspecto dos sinais gráficos.

“E tem também a constelação!”, me lembra minha mulher aqui ao lado, emendando que está na hora de encerrar o texto e deixar que o leitor volte para o debate político do dia, seja lá qual for.

noticia por : Gazeta do Povo

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