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Cuiaba - MT / 23 de fevereiro de 2025 - 2:36

Propaganda de guerra: a indecência de Trump-Putin e o macabro Hamas

Existe um livro clássico sobre a propaganda de guerra que saiu da estante e passou para a minha cabeceira. Isso é útil neste momento de reviravoltas na geopolítica e de total desprezo ao direito internacional. O livro é da historiadora belga Anne Morelli: “Principi elementari della propaganda di guerra”.

Na propaganda de guerra a mentira deslavada é frequente. É voltada a interferir na formação da opinião pública, quer interna, quer internacionalmente. Dentre os seus princípios informativos não existe o compromisso com a verdade. Em quantidade, tem muito mais fake do que nas redes sociais bolsonaristas, para se ter uma pálida ideia.

Putin e Trump, agora de braços dados e pela força das armas, dispostos a escrever uma nova ordem mundial, abusam da mendacidade com relação à guerra na Ucrânia.

A fake do Zelensky impopular

Nesta semana, por exemplo, Trump afirmou que não tem Zelensky apoio popular para manter-se presidente da Ucrânia.

Segundo Trump, a aprovação do governo Zelensky é de apenas 4%.

A independente agência de pesquisas ucranianas, que goza de prestígio internacional pela isenção, apontava para uma aprovação de 57%. Depois de três anos de guerra, é altíssima a aprovação de Zelensky. A lembrar, no primeiro ano de guerra, a aprovação de Zelensky, que Trump chama de ditador, atngiu 90%.

Putin, num jogo de cena e com propaganda de guerra forte, alega não ter Zelensky, pelo fim do mandato, legitimidade para participar de qualquer acordo sobre a guerra.

Sem legitimação, não poderia ser chamado para uma mesa de negociação de paz, concluiu Putin, que sonha com um novo império, mas aceita passar para a história como restaurador do poderio da antiga União Soviética.

Com base na Constituição da Ucrânia, votou-se uma lei marcial de suspensão das eleições por absoluta impossibilidade de realização e prorrogou-se o mandato de Zelensky.

Trump, numa jogada de propaganda de guerra e a justificar ter afastado a Ucrânia das negociações de paz nos encontros em andamento em Riad, trombeteou para ser ouvido mundo afora: “Durante três anos, nada conseguiram resolver pela paz”. O “nada conseguiram” diz respeito não só a Zelensky, mas, também, à União Europeia, apoiadora de Ucrânia e preocupada com a expansão russa.

Numa tabelinha, Trump quer um imediato cessar-fogo, com realização de eleições para a presidência. Já mandou o seu assessor, dar um parecer e este foi negativa, quer pela guerra, quer pelas destruições, quer pela migração a outros países da Europa.

Nas terras ucranianas ocupadas na guerra, Putin realizou um plebiscito sob encomenda, com soldados russos apresentando as cédulas e acompanhando o voto que deveria ser assinalado no campo reservado à aprovação, de modo a territórios ocupados integrarem a nação russa. Com base no plebiscito, praticou ato de império e anexou as áreas ao estado nacional russo. Simples, assim.

Para se ter ideia: os soldados de Putin ocupam uma área estimada em 131 mil km², algo igual ao tamanho da Grécia. Nela, Kerson, Zaporizhzhia, Luhansk e Donetsk —tudo a ensejar a integração com a Criméia e absoluto controle do mar de Azov.

À luz do direito internacional e em termos de legitimidade, o plebiscito encomendado por Putin não tem valor algum. E valor algum terá, caso dado como concluído, o acordo de paz preparado em Riad pelos três delgados russos e dois americanos, sem a participação e aprovação da Ucrânia. Na cabeça da dupla Trump-Putin, a Ucrânia é uma espécie de sede vacante, por isso não precisaria ser representada. A dupla pensa poder decidir pelos ucranianos, pasmem.

A propaganda de guerra difunde-se, como acima exposto, pela Ucrânia, com objetivo de assustar a população e fazer surgir uma liderança pró-Trump e Putin, para vencer uma eleição que será certamente fraudada.

Para Trump, a paz é a sua meta: na campanha eleitoral disse que isso aconteceria em 24 horas. Sem corar, Putin também fala da sua dor ao verificar a quantidade de mortos. Também quer a paz.

Com efeito, revelou Morelli –e fornecendo inúmeros exemplos históricos– que a primeira regra elementar da propaganda de guerra é preparada da seguinte maneira: antes de declarar guerra, fala-se solenemente de não a desejar e ser a meta lutar pela paz.

A propósito, frisa Morelli, Hitler, um ano antes de invadir a Polônia e causar o início da Segunda Guerra, celebrou acordo com os polacos e disse: ” Estamos completamente convencidos que este acordo levará a uma paz duradoura”.

Hamas fragilizado

O Hamas, na faixa geográfica de Gaza, está fragilizado. O acordo com Israel, costurado por Egito, Catar e EUA, representou uma oportunidade para, pela propaganda de guerra, mostrar estar vivo e contar com apoio dos palestinos. Usou de propaganda de guerra de modo a aparecer como vencedor da guerra.

Ainda para fim de imagem propagandística, fez da entrega dos reféns, na primeira fase do acordo e com previsão de libertação de 33 deles, uma encenação humilhante com relação aos vivos, e macabra referentemente aos 4 corpos sem vida restituídos.

Quanto aos quatro corpos sem vidas, duas crianças, mãe (exame de DNA comprovou ter havido erro, pois não se trata da mãe) e um idoso octogenário, preparou-se um espetáculo macabro para fim propagandístico.

Urnas mortuárias com escolta de soldados do Hamas encapuzados e com metralhadores serviram para a propaganda e, nesse campo, o lado do respeito, da dor, não contaram.

Na guerra da propaganda, o Hamas atribuiu responsabilidade exclusiva de Israel, pelas suas forças militares, pelas mortes do bebê e da criança. As mortes, a incluir a da mãe, decorreu, na versão do Hamas, dos bombardeios israelenses a Gaza. Israel, depois dos exames cadavéricos, mostrou os laudos reveladores da verdadeira causa das mortes, ou seja: falta de alimentação e não projéteis de armas de fogo. E, por exame de DNA, o corpo entregue não é o da mãe das crianças e de nenhum dos reféns, do terror do 7 de Outubro.

Diante da duas contrapostas versões espalhadas pela guerra de propaganda, caberá a um organismo internacional do campo científico desvendar e anunciar a verdade.

Pano rápido: vamos ter cuidado com a propaganda de guerra, em especial quando alimentada por fontes inconfiáveis. Trump, por exemplo, continua a dizer, sem corar as faces: “Acredito piamente estar a Rússia aberta para a paz”. Nem Trump e nem Putin estão interessados na paz, mas em vantagens.

noticia por : UOL

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