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Cuiaba - MT / 2 de fevereiro de 2025 - 0:50

Bolsa Brasil na liga global: o que os gráficos mostram sobre nossos investimentos

Imagine que você está assistindo a um campeonato de futebol com times de diferentes ligas. Alguns times jogam no Brasil, outros representam campeonatos internacionais. Você torce pelo time local e acredita que ele perdeu por causa do técnico ou da política do clube. Mas, ao olhar a tabela, percebe que outros times do mesmo campeonato também tiveram resultados ruins. Talvez o problema não seja apenas interno, mas algo maior, como as condições do campo ou o clima. Esse raciocínio é uma boa analogia para entendermos como o desempenho do mercado brasileiro está ligado ao contexto global e, muitas vezes, ao comportamento dos mercados emergentes.

Os gráficos que analisamos hoje comparam o MSCI Brasil (EWZ) com o MSCI de mercados emergentes (EEM) e o MSCI Global (MXWO). Eles estão em dólares e já consideram o reinvestimento de dividendos, o que reflete de forma mais precisa o retorno total para o investidor.

No primeiro gráfico (acima), percebemos como a trajetória do índice brasileiro está altamente alinhada com o dos mercados emergentes. Apesar das variações locais, ambos os índices seguem um padrão muito semelhante ao longo do tempo. Essa semelhança nos mostra que, muitas vezes, o desempenho do nosso mercado é menos sobre Brasília e mais sobre Xangai, Nova Délhi ou até o preço global das commodities.

Perceba no painel inferior do gráfico acima que a relação entre a evolução do índice brasileiro e de emergentes ficou sempre próximo de 1, oscilando entre 0,8 e 1,2. Ao final de uma década, o investimento em um ou no outro foi resultou praticamente no mesmo desempenho. Entretanto, ao investir nos mercados emergentes, o investidor estava muito mais diversificado. Importante lembrar que o peso do Brasil nesse índice de emergentes é de apenas 4,4%.

Olhando o segundo gráfico (abaixo), que compara os mercados emergentes ao índice global, fica claro que o jogo muda completamente. Enquanto os emergentes oscilam de forma mais dramática, o índice global apresenta uma trajetória relativa de alta muito mais estável e consistente. Isso se deve, em grande parte, à composição desses índices.

O MSCI Global, por exemplo, é amplamente dominado por empresas de tecnologia e saúde, setores que crescem de forma mais previsível e resiliente. Já os mercados emergentes, incluindo o Brasil, dependem fortemente de commodities e exportações, que estão sujeitas a ciclos econômicos globais mais intensos.

Vamos aos detalhes: o índice brasileiro, representado pelo MSCI Brasil, é fortemente concentrado em setores como bancos e commodities. Empresas como Vale e Petrobras têm grande peso, e seu desempenho está ligado diretamente ao preço do minério de ferro e do petróleo, que são influenciados por fatores externos, como a demanda chinesa e conflitos geopolíticos. Por outro lado, o MSCI Emerging Markets inclui países como China, Taiwan, Índia e Coreia do Sul, com empresas líderes em tecnologia e manufatura. Isso cria um equilíbrio maior em termos de setores, mas ainda assim carrega a volatilidade característica de mercados menos desenvolvidos.

Ressalto, embora o Brasil possa parecer barato em relação ao índice global ou até aos emergentes, é crucial lembrar que o custo baixo não significa necessariamente oportunidade. Assim como um carro usado pode parecer barato, mas precisa de reparos constantes, os mercados emergentes exigem paciência e uma análise cuidadosa do cenário global e local. O investidor precisa perguntar: estou disposto a enfrentar a volatilidade e esperar o momento certo para colher os frutos?

A mensagem principal aqui é que os investidores brasileiros tendem a focar demais no cenário político e econômico interno, acreditando que ele é o único responsável pelos altos e baixos da bolsa. Mas o mercado é como uma peça de teatro com múltiplos personagens. O desempenho do Brasil não pode ser separado do enredo global. Quando a China reduz sua demanda, as ações da Vale sentem o impacto. Quando as taxas de juros globais sobem, o fluxo de capital para mercados emergentes, incluindo o Brasil, diminui.

Portanto, investir de forma estratégica significa olhar além das nossas fronteiras. Isso não significa ignorar os fatores internos, mas entendê-los no contexto de um mercado globalizado. O investidor que reconhece essas conexões tem uma visão mais ampla e, consequentemente, mais chances de tomar decisões informadas.

Grandes fortunas não são construídas apenas em momentos de euforia local, mas em cenários onde se enxerga além das manchetes imediatas. Afinal, como no campeonato de futebol, para entender o desempenho do time brasileiro, é preciso acompanhar toda a liga.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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noticia por : UOL

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