Vai uma cervejinha do Lula? Ou prefere um vinho do Bolsonaro? Se quiser, tem a taça com a inscrição “il Mito” para acompanhar a bebida do ex-presidente. Para a gelada, como a temperatura pede, tem o copo térmico ou o tradicional americano — aquele típico de bar —, ambos com o rosto de Lula jovem estampados.
Hoje em dia a militância dá lucro. E quanto maior for a polarização, melhor para o bolso do empresário, pois mais específico fica o nicho no mercado. Nos negócios, porém, não há preconceitos: direita, esquerda, centro, amarelo, vermelho, azul, brancos e nulos… Todos conseguem rentabilizar com suas ideologias.
Para além dos broches, adesivos e camisetas, comuns em comícios e campanhas políticas, a criatividade vem crescendo no mesmo ritmo da polarização. Com isso, são criadas marcas e lojas que vendem produtos o ano inteiro e estão sempre trazendo novidades.
O e-commerce Copunista criou uma linha de copos térmicos “inspirado em ícones revolucionários”, conforme sua descrição: “Qualidade, resistência e o espírito da revolução em cada detalhe”. Pelo símbolo da foice e o martelo na marca, entende-se que “copunista” é uma referência a “comunista” e o copo “Stalin”, à marca “Stanley”, fabricante famosa de uma linha térmica.
O copo custa R$ 84,25. Pelo mesmo preço, há opções com figuras de Che Guevara, Karl Marx e Paulo Freire. Para as mulheres, diz o anúncio, Frida Kahlo.
Na mesma linha ideológica, a marca Camisa Crítica desenvolve estampas de camisetas, bonés do MST e bolsas que, segundo o site, não seguem uma ordem e são fruto de pesquisa e contribuições. São várias as coleções: Latinoamérica, Lutas Populares, URSS, Revolução, História do Brasil, Futebol, Feminista e Antifascismo, entre outras. E os produtos vão de bolsa, boneco e caderno a moletom e camiseta infantil.
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Produtos criam “senso de pertencimento”
Natália Mendonça, professora de Marketing Político da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), explica que o movimento de produtos de cunho político ganhou impulso na primeira campanha do presidente norte-americano Donald Trump, com o boné “Make America Great Again”. No Brasil, ela diz, a tendência é mais recente e foi personalizada com nosso toque de humor e uso de jargões (ou memes) por trás da mensagem.
Para Natália, o objetivo desses itens é criar uma identidade, um senso de pertencimento, uma forma de financiar a própria crença ideológica. Mas não é só política. É empreendedorismo também.
“Com a polarização e o tamanho dos nichos, viu-se [na direita e na esquerda] oportunidades. Essa quantidade de produtos que se tem hoje é fruto de muita gente querendo lucrar. Além disso, o perfil empreendedor do brasileiro influencia”, analisa Natália.
Alguns sites destacam isso em suas apresentações. É o caso do Pra Esquerda: A loja Mais Comunista do Brasil, que avisa que o espaço se dedica a promover a diversidade, a igualdade e a justiça social. “Estamos aqui para apoiá-lo em sua jornada e para fornecer os produtos e o espaço que você precisa para expressar sua paixão pela mudança..
Entre os itens vendidos, estão o copo americano citado no início do texto e canecas com estampas do presidente Lula, Frida Kahlo e Che Guevara. O Instagram da marca mostra que também são vendidas outras peças, como regatas, bolsas e bonés em feiras.
O youtuber Ian Neves, do canal História Pública, dedicado “à informação, ao debate e à análise política feito por historiadores marxistas”, tem um link em seu Instagram que direciona para a loja Soberana.
O e-commerce, autodenominado um coletivo marxista-leninista “que atua na disputa pela consciência política dos trabalhadores na internet”, vende chaveiros de crochê a R$ 75, por exemplo, além de ecobags, pôsteres e bonés. Um deles, que custa R$ 60, traz a frase “Capitalismo falhou, falha e falhará”.
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Calçados do “mito” para fãs do agro e patriotas
Outra que diz ter um propósito, neste caso em prol do agro, é a loja online Botinas Bolsonaro — que não vende só calçados. Com linhas como “Civic Retro”, “Ultra Soberania”, “Patriota Style”, “Puro Mito” e “Capitão”, sua vitrine virtual também oferece tênis e sandálias para homens e mulheres, além de kit de cuecas boxer com três unidades por R$ 49,90.
Sob a premissa “calçado em couro legítimo ideal para amantes do agro e patriotas”, a empresa afirma ser “símbolo de resistência e força, características também presentes no agronegócio brasileiro”. E explica que tem autorização de Bolsonaro para usar seu nome e que a relação com o ex-presidente é apenas pessoal, sem vínculo político.
Bolsonaro, junto com a esposa Michele, também aproveitou a onda de merchandising. Ele lançou um perfume com seu nome e ela, além da própria fragrância, uma linha de maquiagem.
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O nome da família ainda batiza uma linha de vinhos e produtos como saca-rolhas, taças e cases para levar as garrafas. Enquanto o rosé e o branco “il Mito” custam R$ 129,90, o Carmenere, Merlot e Cabernet saem por R$ 149,90.
Na percepção de Natália Mendonça, da ESPM, o mercado de produtos com viés político tem êxito porque existe um público disposto a pagar por aquilo acredita. No entanto, ela observa, pode ser uma clientela limitada em quantidade, considerando que muitos eleitores votam nulo e branco ou contra um candidato — não necessariamente no escolhido da direita ou da esquerda.
Natália ainda aponta que as principais estratégias nesse universo é entender o público, aproveitar as pautas em alta e estar atento à internet, pois a maioria das lojas são virtuais. “A estratégia também tem que ser ligada ao humor, que é básico do brasileiro e ao que está reverberando na internet e ao perfil do público.”
Diz o ditado que “em tempos de crise, uns choram e outros vendem lenços”. Em 2025, enquanto uns militam, outros vendem camisas, bonés, chaveiros, copos…
noticia por : Gazeta do Povo