Imagine que você está em um grande show, mas há duas formas de assistir. A primeira opção é ficar no camarote VIP, com acesso garantido, assento confortável e segurança de que verá tudo de perto. A segunda é ficar na pista comum, onde você pode até conseguir um bom lugar, mas está sujeito a empurrões, chuva e, no pior dos casos, sair sem enxergar nada. No mundo dos investimentos, ser credor é como estar no camarote: seu lugar está garantido e você recebe antes de todo mundo. Já ser acionista é como estar na pista: há potencial para uma visão incrível, mas também para sair frustrado.
O problema está na forma como aprendemos a investir. Quando pensamos em “investir em empresas”, a maioria das pessoas automaticamente pensa em ações. Ser sócio de um grande negócio parece uma ideia inspiradora, quase um símbolo de status. Afinal, ser acionista de grandes companhias é a maneira clássica de participar do crescimento da economia. Mas há uma forma muitas vezes mais segura e mais lucrativa: ser credor, não acionista.
No Brasil, o cenário econômico sempre premiou aqueles que emprestam dinheiro. Com taxas de juros historicamente elevadas, os credores recebem antes e drenam grande parte do fluxo de caixa das empresas. O resultado? Sobra pouco para os acionistas.
Muitos confundem a ordem que se dá a distribuição. O Fluxo de caixa de uma empresa atende à remuneração de credores e acionistas. Entretanto, os acionistas só recebem o que sobra depois de os credores serem pagos. E como as taxas de juros são altas, os credores são mais bem pagos na média.
O Ibovespa frequentemente perde para o índice de crédito privado, como mostra a tabela abaixo. A tabela abaixo apresenta o retorno médio anual passado em vários períodos para o índice de crédito corporativo da Anbima e do Ibovespa. Lembro que o retorno do Ibovespa abaixo já inclui dividendos reinvestidos. O prazo do retorno é o período em anos anterior, por exemplo, o último ano, os últimos 2 anos, os últimos 3 anos e assim sucessivamente.
Retorno passado anualizado (% ao ano) | ||
Prazo | Crédito DI | Ibovespa |
1 ano | 11,73% | -2,40% |
2 anos | 14,19% | 10,78% |
3 anos | 13,29% | 1,38% |
5 anos | 11,40% | 11,36% |
10 anos | 10,31% | 9,35% |
15 anos | 10,59% | 3,91% |
Volatilidade | 1,80% | 22,10% |
O investidor brasileiro vive um paradoxo: teme investir em crédito privado porque “parece arriscado”, mas não hesita em colocar dinheiro na bolsa, que tem volatilidade muito maior.
O credor recebe antes, tem garantias e, em caso de falência, ainda pode recuperar parte do valor investido. O acionista? Esse fica com o que sobrar, se sobrar.
Quer um exemplo real? A Americanas. Enquanto acionistas viram suas participações derreterem mais de 90%, os credores ainda conseguiram negociar e recuperar parte do que emprestaram. Outro caso clássico: o setor elétrico. Empresas com altíssima previsibilidade de receita muitas vezes pagam mais aos credores do que aos acionistas.
Howard Marks, um dos maiores investidores do mundo, já destacou como o crédito pode oferecer retornos superiores com menor risco, desde que bem analisado. Grandes fundos institucionais, aqueles que realmente fazem dinheiro no longo prazo, sempre priorizam fluxo de caixa estável. E fluxo de caixa estável é justamente o que o credor recebe antes de todos.
A questão central não é apenas quanto um investimento pode render, mas qual a relação entre risco e retorno. Com a taxa Selic sempre acima da média global, o investidor no Brasil precisa perguntar: vale mais a pena ser dono ou financiador do negócio?
Se você ainda está em dúvida, olhe para a tabela novamente. Os números não mentem.
Agora, a pergunta final: você quer correr riscos para talvez ganhar, ou prefere sentar e receber seu pagamento antes de todo mundo?
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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noticia por : UOL