O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de 69 anos, disse que fez o implante de um “chip hormonal” para melhorar seu desempenho sexual, em entrevista ao Leo Dias TV, na última terça-feira (25).
O “chip hormonal” é uma forma de administração de medicamentos, onde um princípio ativo é liberado de forma subcutânea (sob a pele).
Esses implantes atuam como um depósito de hormônios, mantendo níveis constantes na corrente sanguínea ao longo de meses, o que evita picos hormonais e a necessidade de uso diário de medicamentos ou géis.
O especialista em endocrinologia e metabologia Alexandre Hohl explica que há dois tipos principais: os absorvíveis, que se dissolvem naturalmente sob a pele e não podem ser removidos caso causem efeitos colaterais, e os não absorvíveis, que funcionam como pequenos tubos de plástico e podem ser retirados cirurgicamente caso necessário.
Apesar de serem chamados de “chips hormonais”, não são dispositivos eletrônicos. A nomenclatura vem do formato, semelhante a um grão de arroz, explica o urologista e oncologista Bruno Benigno.
“Existem várias formas de administrar testosterona, incluindo métodos que estimulam a produção natural do hormônio, como o clomifeno”, afirma Benigno. Além disso, a reposição pode ser feita por meio de géis ou injeções (intramuscular ou subcutânea).
Durante a entrevista a Leo Dias, Jair Bolsonaro foi questionado sobre o uso de tadalafila, princípio ativo do Cialis, medicamento indicado para disfunção erétil, semelhante ao Viagra. Ele respondeu que a tendência atual é o uso do “chip hormonal”.
O endocrinologista Alexandre Hohl alerta que algumas clínicas adicionam tadalafila aos implantes hormonais junto com testosterona, uma prática preocupante devido à falta de estudos sobre os efeitos dessa combinação. No entanto, ele ressalta que não há como saber exatamente quais substâncias estavam presentes no implante utilizado por Bolsonaro.
A reposição hormonal, especialmente com testosterona, é geralmente indicada para homens com hipogonadismo masculino, uma condição caracterizada pela produção insuficiente de testosterona pelo organismo. Essa condição pode causar diversos sintomas, como diminuição da libido, perda de massa muscular, fadiga e outros problemas de saúde.
Riscos e efeitos colaterais da reposição de testosterona
Os especialistas alertam que a reposição hormonal, quando não é necessária, pode trazer riscos sérios à saúde, especialmente no caso de implantes hormonais utilizados sem supervisão médica adequada. Entre os principais problemas:
- Agravamento da apneia do sono
- Aumento dos glóbulos vermelhos, o que pode levar à trombose
- Crescimento acelerado da próstata, intensificando sintomas urinários e, em casos de câncer não diagnosticado, estimulando a progressão do tumor
- Infertilidade, especialmente no uso recreativo
- Efeitos colaterais visíveis, como ginecomastia, que é o crescimento das mamas em homens, pele oleosa, acne, queda de cabelo e redução da produção de espermatozoides
- Danos ao fígado e ao coração, em casos de uso excessivo
- No caso dos implantes absorvíveis, os efeitos colaterais podem durar de 6 a 12 meses sem possibilidade de reversão, tornando seu uso ainda mais arriscado.
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Além dos riscos à saúde, o uso indiscriminado de implantes hormonais preocupa sociedades médicas. O endocrinologista Alexandre Hohl explica que esses produtos são frequentemente manipulados, ou seja, não possuem bula com informações padronizadas sobre indicações, contraindicações e dosagens seguras. Isso torna difícil para médicos e pacientes saberem exatamente o que está sendo administrado.
Outro ponto crítico é a falta de regulamentação adequada no Brasil. Especialistas afirmam que o mercado de implantes hormonais opera sem normas claras, o que abre espaço para o crescimento de um mercado paralelo sem controle de qualidade.
noticia por : UOL