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Cuiaba - MT / 22 de janeiro de 2025 - 11:49

Moda modesta: Melania Trump e a guinada conservadora nas tendências


Termo “moda modesta” passou a ser buscado com frequência a partir de 2018 e desde então o interesse no tema só cresceu. Roupa de Melania na posse de Trump virou assunto nesta semana
Getty Images via BBC
Quem busca “moda modesta” em qualquer rede social — Instagram, Tik Tok, Facebook, Pinterest — encontra uma infinidade de influenciadoras de moda com um estilo marcado por vestidos e saias de comprimento midi (abaixo dos joelhos), cores discretas, pouco decote, pouca pele exposta — mas tudo muito tradicionalmente feminino.
A tendência em geral está ligada a uma forma de se vestir mais discreta para mulheres regulada pela religião, explica a consultora de moda Thais Farage. No Brasil, são influenciadoras evangélicas, mas nos EUA e na Europa também há mulheres muçulmanas ou judias ortodoxas alavancando o estilo.
E a tendência não é nova: o termo “moda modesta” passou a ser buscado com frequência a partir de 2018, segundo o Google Trends, e desde então o interesse no tema só cresceu.
Mas nos últimos tempos há um novo fenômeno em curso: essa estética tem passado para outros ambientes que não são necessariamente ligados à religião.
O estilo aparece no mundo fashion, com cada vez mais grifes abraçando a estética em campanhas publicitárias e cada vez mais marcas de fast fashion disponibilizando roupas que agradam às adeptas da “moda modesta”.
A forma de se vestir de Melania Trump na posse de Donald Trump como presidente dos EUA, na segunda (20), é uma ótima representação do estilo.
“Tradicional, comportada, mas com cintura marcada, muito feminina. Repare que ela não usou calça, estava com as pernas de fora mesmo no frio de -13º em Washington”, diz a consultora.
Melania não é conhecida por ser especialmente religiosa, mas, como primeira-dama de Trump, está em uma posição perfeita para representar essa estética.
“Até agora, Kate Middleton era o exemplo perfeito do estilo no mundo. Mas Melania Trump também pode se tornar um símbolo disso”, afirma Thais Farage.
Reflexo do conservadorismo
A ‘modest fashion week’ apresentou modelos dessa estética em Istambul, em 2024
Getty Images via BBC
O sucesso da “moda modesta” está intimamente ligado ao conservadorismo que tem marcado a política no Brasil e o mundo — e do qual Trump é um dos principais expoentes.
“O mundo da moda gosta de acreditar que dita as tendências, mas, na verdade é o contrário. A moda está sendo afetada por esse comportamento que está mudando, que está se voltando para o conservadorismo”, afirma Farage. “A moda é parte da cultura, ela é um reflexo do que está acontecendo na sociedade.”
Um exemplo é que o estilo de se vestir das chamadas tradwives, “esposas tradicionais”, que defendem que o papel da mulher é cuidar do marido, da casa e dos filhos, também se encaixa na “moda modesta”.
No Brasil, o estilo reflete uma mudança no próprio meio evangélico. “Se antes as igrejas viam o mundo da moda como uma tentação, como algo negativo e perigoso, agora elas perceberam que esse lugar da influenciadora de moda é muito forte”, afirma Farage.
“A ‘moda modesta’ não é ‘anti-fashion'”, explica a consultora. “Ela não é contra o consumo, contra tendências, ela não está desconectada do resto do que está acontecendo no mundo. O estereótipo de roupas religiosas como feias, cafonas, sem graça, há muito tempo está ultrapassado.”
O estilo – e os valores que estão ligados a ele – também afetam outras tendências de moda que as pessoas não costumam associar a religião.
“Estamos falando de uma cultura que valoriza muito o tradicional, que fala muito sobre elegância, há uma obsessão, especialmente no Brasil, com parecer elegante”, diz Farage. “Hashtags que não são ligadas a religião, como clean beauty, old money, clássico, minimalismo, também tem muito a ver com esse estilo.”
“É um estilo no qual tudo o que é sexy não é elegante. Também rejeita tudo o que é muito colorido, muito chamativo. O sofisticado é o discreto”, afirma a consultora.
“Isso não é necessariamente ruim — por um lado é uma rejeição à ideia de mulher como objeto sexual. O perigo é que, ao opor o sensual ao elegante, é muito fácil cair em um moralismo.”
No campo progressista, também há quem adote um estilo que rejeita a sexualização da mulher. Um exemplo é a cantora Billie Eilish, que no início da carreira se vestia somente com roupas largas, confortáveis, com camisetas compridas que não marcavam o corpo.
“A diferença é que, na ‘moda modesta’, não pode haver uma neutralidade de gênero ou uso de roupas consideradas masculinas. Tudo tem que ser muito feminino”, afirma Thais Farage.
‘Mulher modesta não sente calor’
Kate Middleton é considerada um símbolo da ‘moda modesta’
Getty Images via BBC
Mas como um estilo que preza por não mostrar o corpo funciona em um país quente como o Brasil?
“Existe uma frase que vi muito entre influenciadoras de moda modesta que é ‘se piriguete não sente frio, a mulher modesta não sente calor'”, diz Farage.
Ou seja, diz a consultora, não é um estilo onde o conforto ou o bem-estar são a prioridade. “Estamos falando de uma moda que, se não é regulada pela religião, é regulada pelos valores conservadores. O conforto não é prioritário.”
Mostrar a pele não é o único hábito cultural brasileiro que não parece se encaixar na estética da “moda modesta”.
Maximalismo, estampas chamativas ou muito coloridas, unhas cumpridas também não fazem parte do estilo.
“É um estilo muito marcado pelas influências europeias. De certa forma, é uma rejeição do tropical, do que se considera — aí com muitas aspas — uma ‘selvageria sensual latina’.”
Adaptada ou não aos trópicos, a ‘moda modesta’ está cada vez mais presente e influente no Brasil. “Não é uma moda passageira”, diz Farage. “É reflexo de uma mudança cultural, e mudanças culturais não acontecem de uma hora para a outra.”
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Fonte: G1

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