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Cuiaba - MT / 8 de fevereiro de 2025 - 20:05

Mortes: Apaixonado por arqueologia, fundou museu no sertão do Ceará

Ao pé da Serra Azul, no distrito de Pedra e Cal de Ibaretama (CE), o casarão amarelo da fazenda Coité é sede do Museu Tertuliano de Melo desde 2013. O espaço cultural foi fundado por Tertuliano de Melo Neto, que nasceu na mesma fazenda em 1957, à época no município de Quixadá, herdou o nome do avô e desde pequeno colecionava objetos históricos —”cacarecos”, chamava.

A paixão de menino por pedras o fez aprofundar-se na arqueologia, já após os 50 anos. Primeiro com pesquisas autônomas, depois com ajuda de especialistas e cursos na área. Começou a encontrar muitos artefatos na região e recebia doações de outros moradores. Por isso, dizia que o projeto começou com ele, mas era do povo. Ficou conhecido como Homem das Pedras.

De sua coleção nasceu o primeiro museu arqueológico do sertão central do Ceará. Montou os mostruários e catalogou peça por peça. Na parte pré-histórica, há 462 cerâmicas de tradição tupi e 120 líticos, termo arqueológico para fragmentos de rochas ou minerais. Ainda há 120 objetos históricos, como ferro a lenha, vitrola, pilões e roda de carro de boi.

“Ele é o grande guardião de memórias de um tempo. Nunca recebeu apoio de ninguém, sempre fez com verbas dele”, diz o documentarista Roberto Bonfim, 55.

Neto teve uma infância difícil, de poucas condições financeiras para uma família muito grande. Foi criado pelo avô, que produzia algodão. Quando menino, vendia sobras da produção, comprava pequenos animais e começou a ganhar dinheiro.

Era ele quem pagava o próprio colégio, para onde muitas vezes ia a pé, pelos 4 km até Quixadá.

Na juventude, foi morar em Fortaleza. Do casamento de 15 anos com Isabel, teve três filhos. Montaram uma pequena fábrica de artesanatos que vendiam no mercado central da cidade e depois uma escola particular. Depois que venderam o colégio, Melo Neto se aposentou e passou a viver de renda.

Também depois dos 50, se formou em pedagogia e se especializou em psicoterapia. Continuou estudando e fez uma especialização em arqueologia social em Nova Olinda.

Há anos, vivia com problemas no coração e tomava muitos remédios. Mas foi nos últimos anos que viveu grandes sonhos. Passou a ter coisas que sonhava quando criança e a viajar para conhecer outros lugares. “Era uma pessoa da paz, não queria confusão com ninguém”, afirma o amigo.

Morreu após um infarto fulminante, aos 67 anos, no dia 5 de janeiro.

Deixa os três filhos, Davi, Sara e Samuel, e seus seis netos, além do museu, que segue como espaço de memória de sua comunidade.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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noticia por : UOL

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