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Cuiaba - MT / 27 de dezembro de 2024 - 1:48

Não há Natal na Palestina

“Não montamos uma árvore de Natal (na praça da Manjedoura), nem decoramos as ruas. Queremos mostrar ao mundo que a Palestina continua sofrendo com a ocupação israelense e a injustiça”, disse o cristão Anton Salman, prefeito da cidade de Belém, na Palestina. É distópico que —enquanto cristãos conservadores ao redor do mundo ocidental celebram o Natal com a opulência que a indiferença capitalista permite— os cristãos que vivem no berço de sua fé protestam solitários contra a ocupação ilegal possibilitada pelas armas vendidas a Israel. Quando Jesus se torna apenas uma ideia vaga de sentido, esquece-se a dor dos palestinos no mesmo local onde ele há de ter nascido.

Belém viveu uma celebração natalina bem modesta pelo segundo ano consecutivo diante do massacre em Gaza e da repressão na Cisjordânia. Foi assim que a Al Jazeera relatou o clima na véspera de Natal: “O doce som de crianças cantando canções de Natal encheu o ar, um forte contraste com as mensagens sombrias nas faixas que seguravam: ‘Queremos a vida, não a morte’ e ‘Pare o genocídio de Gaza agora’. Até o papa Francisco, no Vaticano, usou a missa na sacada central da Basílica de São Pedro para pedir que “Calem-se as armas no Oriente Médio” e na Ucrânia, não deixando de mencionar igualmente os conflitos nos muitos outros lugares da África, Ásia e Américas esquecidos pelos holofotes mundiais.

Falar da Palestina no Natal incomoda porque serve de contraponto à visão higienizada desta festividade, como se fosse possível que cristãos abstraiam dos abusos em curso; atos de violência por Israel apenas dificultam o retorno dos reféns, um contínuo crime de guerra. Falar da Palestina no Natal serve de contraponto à visão embranquecida de Jesus como caucasiano de olhos claros; na realidade Jesus

—se alguma vez existiu como tal— era mais próximo dos negros escravizados que a Igreja entendia que não tinham alma e dos palestinos que são massacrados com desdém por não serem vistos como brancos. Para um ateu, como eu, resta a hipocrisia ocidental de celebrar Jesus apoiando o massacre justamente no local onde este nasceu.


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noticia por : UOL

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