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Cuiaba - MT / 15 de janeiro de 2025 - 13:01

O que acontece com as mulheres quando ninguém está olhando

A proposta de derrubar a moderação nas plataformas da Meta, anunciada por Mark Zuckerberg na última semana, coloca as mulheres em risco –uma consequência pouco presente no debate público. Segundo o pronunciamento do fundador, a empresa está abandonando políticas que restringem temas ligados a imigração e gênero, em suas palavras, “porque essas políticas são usadas como forma de silenciamento e isso já foi longe demais”.

O ambiente online já é mais hostil para as mulheres. Entre os discursos de ódio na Internet, a misoginia está entre os que mais cresceram nos últimos anos, de acordo com últimos dados da SaferNet. Assédio, ameaças, pornografia ered pills” escancaram o machismo, o racismo e o sexismo e traz suas consequências para a vida das mulheres dentro e fora das redes.

O Ministério das Mulheres, em parceria com a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), analisou 137 canais com discursos misóginos no YouTube e constatou que eles acumulam quase 4 bilhões de visualizações. Além de espalhar a aversão e teorias da conspiração, monetizam com isso. Outra investigação na Alemanha descobriu grupos no Telegram com cerca de 70 mil usuários compartilhando estratégias de violência e relatos contra suas próprias parceiras, irmãs e mães. Na mesma linha foi o caso de Dominique Pelicot, que convidava homens em fóruns online para estuprar sua própria esposa. Outro crime complexo de fiscalizar é a exploração sexual infantil na internet, que bateu recorde em 2023 com mais de 71 mil queixas.

Nesse contexto, derrubar a checagem e desresponsabilizar usuários é uma sentença a mulheres e meninas de todo o mundo. Lembramos que as principais queixas e denúncias do gênero feminino estão relacionadas a exposição de imagens íntimas, aliciamento, exploração sexual, conteúdo violento e discurso de ódio. Isso não pode, em hipótese alguma, ser defendido como liberdade de expressão.

As ameaças online impactam também a vida real. Muitas sofrem agressões físicas, enquanto outras passam por sequelas psicológicas agudas. Um estudo do Instituto Avon mostra que 35% das mulheres que sofrem violência passam a ter medo de sair de casa e 30% adoece psiquicamente. Essa violência institucionalizada reverbera ainda no imaginário coletivo, que normaliza uma sociedade que tolera e até endossa a violência de gênero.

O que esperar quando as poucas barreiras de segurança para reduzir a violência online nas plataformas da Meta forem extintas? Como mensurar o aumento da violência de gênero nas redes sociais quando a própria responsável por elas muda as regras do jogo e nega transparência? Para outros grupos, os efeitos já começaram: a Meta autorizou publicações associando pessoas gays e trans a transtornos mentais e anormalidades.

Se aceitarmos passivamente as decisões dos donos das big techs, continuaremos fracassando na proteção das mulheres e de populações vulneráveis. A mudança só será possível com letramento digital, educação midiática, regulação e a tomada de consciência para reivindicar o que vem sendo sistematicamente roubado de todos nós: o respeito, a autonomia, o pensamento crítico, a troca civilizada de ideias e a pluralidade de pensamentos e experiências.

noticia por : UOL

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