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Cuiaba - MT / 19 de janeiro de 2025 - 0:16

Peter Thiel, o bilionário que emplacou o vice de Trump e deve influenciar o governo

O mundo tem visto uma guinada à direita por parte de grandes nomes do Vale do Silício — um ambiente tradicionalmente voltado ao progressismo. Mas, muito antes de Elon Musk se tornar o rosto dessa nova corrente, outro bilionário do ramo da tecnologia já chamava a atenção por sua aproximação com o campo conservador: Peter Thiel.

Cofundador do PayPal e um dos primeiros investidores do Facebook, Thiel também é o criador da Palantir Technologies, empresa de software de análise de dados que mantém contatos governamentais milionários na área de segurança. Em 2016, ele virou notícia por ter sido um dos únicos barões das big techs a declarar apoio a Donald Trump, quando este ainda era considerado um aventureiro na política. 

Mais do que isso: Thiel doou US$ 1,25 milhões para Trump, apadrinhamento que repetiu em 2022, dessa vez com o então candidato ao Senado J.D. Vance — de quem é uma espécie de guru.  Foram US$ 15 milhões destinados à campanha de Vance, e mais US$ 20 milhões distribuídos entre outros postulantes do Partido Republicano ao Congresso. 

No ano passado, Peter Thiel anunciou que não daria mais ajuda financeira a políticos. Há, inclusive, notícias de bastidores sobre uma suposta ligação de Donad Trump ao empresário, ainda no mês de abril, quando o agora presidente eleito pediu uma “forcinha” de US$ 10 milhões. 

Thiel, no entanto, contribuiu de outra forma na eleição. Usou sua influência junto aos megainvestidores do planeta para mostrar que uma nova aliança havia se formado no cenário americano. 

Antes rejeitada pelos republicamos mais tradicionais, a chamada ala “tecnolibertária” do Vale do Silício agora estava de braços dados com os conservadores. Uma parceria em prol do livre mercado, da desburocratização do Estado e da eliminação da cultura woke. 

Com a vitória de Trump, de quem já era conselheiro informal, o bilionário hoje se posiciona no epicentro do governo americano — mesmo sem um cargo oficial, como Elon Musk.  E como principal mentor de J.D. Vance, pode exercer forte influência na Casa Branca pelos próximos anos.

Investidor enriqueceu apostando em empresas pouco conhecidas

Nascido em Frankfurt, na Alemanha, Peter Thiel, de 57 anos, emigrou com os pais para os Estados Unidos ainda criança. Ele estudou Filosofia e Direito na Universidade de Stanford e, após a faculdade, começou a trabalhar num escritório de advocacia. 

Em seguida, ingressou no banco de investimentos Credit Suisse, onde desenvolveu as habilidades que mais tarde fizeram dele um dos maiores investidores de risco do mundo.

À frente da empresa Founders Fund, Thiel detém participação em centenas de companhias — a maioria delas fundada por jovens empreendedores, que costuma orientar desde os primeiros passos no mundo dos negócios. 

“Nunca corra atrás de uma tendência que está em todas as bocas. Nade contra a corrente”, ele costuma dizer, ao explicar seu talento para encontrar oportunidades onde menos se espera. 

Em 1998, Peter Thiel colocou todos seus recursos (cerca de US$ 300 mil) no PayPal, serviço digital de pagamentos criado pelo seu amigo Elon Musk. Quatro anos depois, a empresa foi vendida por US$ 1,5 bilhão. 

Mais dois anos se passaram, e o investidor comprou, por meio milhão de dólares, 10% de um site ainda desconhecido chamado Facebook. Em 2012, vendeu a maior parte de suas ações na rede social por US$ 1 bilhão. Segundo a revista Forbes, sua fortuna hoje ultrapassa a marca de US$ 4,2 bilhões.

Bilionário também é conhecido por ideias ousadas sobre a sociedade 

Thiel não é apenas um tubarão do mercado com faro muito acima da média. Ele também se apresenta como um intelectual que busca difundir ideias ousadas e controversas sobre o capitalismo, o papel da tecnologia e o progresso da humanidade.

Nos anos 2000, o investidor causou polêmica ao declarar que liberdade e democracia talvez não fossem compatíveis e atribuir à crise da política americana ao voto feminino e ao aumento dos beneficiários da previdência social. 

Após receber uma enxurrada de críticas, ele voltou atrás e passou a adotar um discurso um pouco menos radical, mas ainda assim questionado até mesmo pelos conservadores.

Por exemplo: o bilionário acredita que as grandes empresas do planeta devem buscar criar “monopólios criativos”, baseados na inovação, em vez de competirem entre si. Seus críticos, no entanto, alertam que esse conceito fomenta a desigualdade e a concentração do poder econômico. 

O empresário também apoia o seasteading (criação de comunidades flutuantes em águas internacionais) e investimentos em biotecnologia para o prolongamento da vida — iniciativas consideradas elitistas e desconectadas da realidade da maioria da população. 

Mesmo sua defesa irrestrita das liberdades individuais é colocada em xeque diante de seu envolvimento com expedientes de vigilância em massa (afinal, a Palantir fornece tecnologia usada em operações militares e de segurança interna para diversos países).

Contradições à parte, pode-se dizer que os pilares de seu pensamento estão em consonância com o ideário da direita americana. Em linhas gerais, Peter Thiel abraça o liberalismo econômico e políticas mais rígidas com relação à imigração, enquanto rejeita com todas as forças o identitarismo politicamente correto — mesmo sendo abertamente gay.

Para críticos, Thiel “inventou” o vice-presidente J.D. Vance 

J.D. Vance estudava Direito em Yale quando assistiu a uma palestra de Peter Thiel. O encontro, além de inspirador, também lhe rendeu um emprego: após o evento, os dois ficaram em contato e o investidor acabou o convidando para trabalhar em seu fundo de capital de risco. 

Desde então, Vance é considerado um pupilo fiel de Thiel, a ponto de seus detratores afirmarem que ele foi “inventado” pelo bilionário — num suposto plano maquiavélico para penetrar no Partido Republicano e, em seguida, na Casa Branca.

Se a história foi mesmo assim, o magnata do Vale do Silício teve êxito. E se confirma como uma das figuras mais poderosas do mundo, graças a uma rara capacidade de financiar aliados e moldar narrativas.

Com a nova administração de Donald Trump, Thiel tem a chance de colocar suas ideias em prática em uma escala sem precedentes. Uma influência que pode durar mais de uma década, caso seu aluno Vance suceda Trump e se torne presidente dos Estados Unidos.

noticia por : Gazeta do Povo

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