O novo primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, convocou eleições antecipadas para o dia 28 de abril dizendo que precisa de um mandato forte para lidar com a ameaça representada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo Carney, Trump “quer nos destruir para que a América possa nos dominar.”
Os comentários mostraram até que ponto as relações entre os EUA e o Canadá, dois aliados de longa data e grandes parceiros comerciais, se deterioraram desde que Trump impôs tarifas sobre o vizinho ao norte e ameaçou anexá-lo, frequentemente referindo-se ao aliado como o 51º estado.
Embora a próxima eleição estivesse prevista para ocorrer apenas em 20 de outubro, Carney espera aproveitar a recuperação de seu partido Liberal nas pesquisas desde janeiro, quando Trump começou a ameaçar o Canadá e o ex-primeiro-ministro Justin Trudeau anunciou sua renúncia.
Ao ser empossado como primeiro-ministro em 14 de março, Carney havia dito que poderia trabalhar com Trump e que o respeitava. No entanto, ele adotou uma abordagem mais combativa neste domingo (23).
“Estamos enfrentando a crise mais significativa de nossas vidas devido às ações comerciais injustificadas do presidente Trump e suas ameaças à nossa soberania”, disse Carney a jornalistas, após o Governador Geral —o representante pessoal do rei Charles, chefe de estado do Canadá— aprovar seu pedido para a eleição.
“Nossa resposta deve ser construir uma economia forte e um Canadá mais seguro. O presidente Trump afirma que o Canadá não é um país de verdade. Ele quer nos destruir para que a América possa nos dominar. Não vamos deixar que isso aconteça.”
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Carney, ex-banqueiro central por duas vezes e sem experiência política ou de campanha eleitoral anterior, conquistou a liderança do partido Liberal há duas semanas, persuadindo os membros da sigla de que ele era a melhor pessoa para enfrentar Trump.
Agora, ele tem cinco semanas para conquistar os canadenses. As pesquisas sugerem que os Liberais, que estão no poder desde 2015 e estavam atrás dos Conservadores nas pesquisas no início do ano, agora estão ligeiramente à frente de seus rivais.
“Passamos de uma eleição em que as pessoas queriam mudança para uma eleição que agora é muito mais sobre liderança”, disse Darrell Bricker, CEO da Ipsos Public Affairs.
“A capacidade dos Conservadores de atacar os Liberais foi muito diminuída, porque as pessoas estão focadas no presente e no futuro imediato, não no que aconteceu nos últimos 10 anos”, disse ele à agência Reuters.
Os Conservadores tentaram retratar Carney como um elitista que planeja continuar com a política de altos gastos do governo de Justin Trudeau. Também o acusam de não ser claro sobre como transferiu seus ativos financeiros pessoais para um fundo cego (modalidade para evitar conflito de interesse, em que o dono dos ativos não tem conhecimento direto sobre as decisões de investimento).
Carney se irritou na semana passada quando foi questionado sobre o fundo, acusando o repórter que fez a pergunta de praticar “conflito e má vontade”. A reação explosiva do premiê dá esperança aos Conservadores de que Carney possa tropeçar durante o que será sua primeira campanha.
A chave para qualquer vitória será um bom desempenho na província predominantemente francófona de Quebec. Carney teve dificuldades em uma entrevista coletiva quando foi questionado em francês, inicialmente não entendendo a pergunta e depois respondendo em inglês.
O líder conservador Pierre Poilievre, por outro lado, fala francês impecavelmente e é um político experiente que já disputou sete eleições.
Laura Stephenson, professora de política na Universidade Western, na cidade canadense de London, disse que a inexperiência de Carney pode não ser tão importante, dado o fator Trump.
“Há um tipo diferente de comparação sendo feita agora entre os líderes e o que eles vão ser capazes de fazer”, disse ela. “Eu tenho a sensação de que vamos ver um pouco mais de benevolência do que normalmente é dado aos políticos durante essa campanha.”
Uma pesquisa online da Angus Reid com 4.009 pessoas, divulgada na semana passada, colocou os Liberais com 42% de apoio e os Conservadores, com 37%.
Uma pesquisa online da Leger com 1.568 pessoas para o National Post, divulgada no mesmo período, colocou os Liberais com 42% e os Conservadores com 39%.
noticia por : UOL