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Cuiaba - MT / 22 de fevereiro de 2025 - 3:18

Você deveria se expor mais a ideias e opiniões contrárias

Caro leitor,

Não tenho o costume de me expor a ideias e opiniões contrárias às minhas. É que me falta paciência para absorver o que considero de antemão uma burrice. Sei, contudo, que essa é uma postura arrogante e… burra. Por isso nas últimas semanas me esforcei para entrar em contato com a obra de sumidades do pensamento contrário ao meu.

O primeiro texto que li foi publicado na Folha de S. Paulo. Da autora vocês já devem ter ouvido falar: Djamila Ribeiro. Intelectual pública, de uma inteligência artificial e cartorária. Afinal, se tirarem dela os diplomas, o que sobra? Eu mesmo respondo: sobra uma pessoa capaz de propor, entre outros absurdos, que o mundo – o mundo! – pague reparações aos Brasil pela invenção do avião, que foi inventado pelo brasileiríssimo Santos Dumont, blá, blá, blá.

Mini AVC

O texto em que ela expõe essa ideia esdrúxula é, na verdade, uma denúncia que usa um termo cheio de teias de aranha (“entreguismo”) para falar que a privatização da Embraer, quase falida no começo dos anos 1990, não trouxe benefício às mulheres negras. Alguém me explica o que o furículo tem a ver com o furúnculo?

O texto termina com uma conclusão que… Bom, vou deixar que vocês encontrem o adjetivo ideal para caracterizar a conclusão do texto. Dois pontos: “Infelizmente, a classe política dominante deste país só quer que sejamos lembrados pelos nossos biquínis”. Ohifssahfosd i hkfsd hfsd fkjdslalk sdjfoit tbmv vcx mdmvnbm,bnm,n. Desculpe, acho que acabei de sofrer um mini AVC aqui.

Desculpe por existir

Por mais indignado que eu estivesse ao ler as mal traçadas linhas da filósofa, fiquei feliz. Afinal, sobrevivi ao contato com ideias e opiniões diferentes das minhas. Ufa. Assim, cheio de confiança e algum alívio, depois de uns dias me recuperando do mini AVC achei que poderia valer a pena repetir a experiência que você pode chamar de masoquismo intelectual – porque talvez seja mesmo. Por sorte, alguém compartilhou um texto escrito por uma tal de Etiene Martins. E lá fui eu me deparar com mais ideias e opiniões contrárias às minhas.

Se entendi direito, e é difícil entender um texto com tantos erros de concordância, regência e lógica, no texto “Por que 22 anos de ditadura incomodam mais que 388 anos de escravidão?” Etiene Martins desenvolve a tese simples de que Walter Saller Jr., o diretor de “Ainda Estou Aqui”, não deveria existir. Só porque ele é branco. A mera existência de Walter Salles Jr., na verdade de qualquer branco, é uma ofensa a Etiene. Duvida? Então leia este trecho:

“Quando eu olho para o rosto do Walter Salles Jr. eu enxergo a descendência dos que torturaram, estupraram, açoitaram, mantiveram em cárcere os meus ascendentes. A vida inteira eu escutei que, por eu ser negra descendente de africanos, eu era descendente de escravos, e ao olhar essa foto encaro um descendente de escravocrata. Um herdeiro direto da desgraça à qual o meu povo foi submetido por 388 anos, que elabora minuciosamente uma obra buscando comover o mundo com uma dor que durou 22 anos”.

Àqueles abrasso

Nesse caso, contudo, não fiquei muito feliz por ter me confrontado com as ideias e opiniões da dona Etiene, não. Fiquei até meio deprimido, sabe? É que, se ideias têm mesmo poder, e têm, fico me perguntando como será o mundo se essas ideias contaminadas pelo ressentimento racial prevalecerem. Isto é, de novo. Avistei carnificinas no horizonte.

De qualquer forma, o exercício e a vontade contida de jogar o computador na parede serviram como um incentivo para, apesar dos percalços e do desânimo que me acomete de vez em quando, continuar refutando as falácias perigosas das Djamilas e Etienes da vida. Inclusive ressaltando o caráter patológico de algumas perversidades travestidas de ideias.

Na esperança de que você esteja bem e não tenha sofrido uma síncope nem ficado mais burro (mais?) ao ler esses textos e esta carta, me despesso com àqueles abrasso do
Paulo

noticia por : Gazeta do Povo

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