“Aqui para você, sou da Freguesia do Ó”, cantava o bloco Urubó pelas ruas do bairro da zona norte de São Paulo. Por ali, no lugar de fantasias políticas, eram o spray de espuma, os confetes e a serpentina que ditavam o tom de Carnaval raiz.
No cortejo, que reuniu famílias, amigos e casais, marchinhas de Carnaval prevaleciam e eram cantadas pelos foliões, que também gritavam quando as músicas eram pop, axé e pagode.
Enquanto adultos se divertiam com as canções, crianças iam ao delírio lambuzando espuma nelas mesmas e em amiguinhos e causando, vez ou outra, um choro aqui e acolá quando o produto pegava no olho.
Apesar do calor, que por vezes não contribuía para manter a cerveja gelada, foliões foram chegando aos poucos, tomaram as ruas do percurso do bloco e não deixaram a animação esvaziar até o fim da fanfarra.
Na praça em que está localizada a Paróquia Nossa Senhora do Ó —o largo da Matriz de Nossa Senhora do Ó —, o público fazia do espaço uma espécie de camarote, onde conseguia cantar, dançar e buscar a sombra de algumas árvores para se esconder do sol.
Apesar de não atrair multidões e manter a tradição do bairro, o cortejo contou com uma boa estrutura para o público, com dezenas de banheiros químicos, segurança reforçada, funcionários que passavam informações e distribuição de água.
Além dos copos de água distribuídos pela prefeitura, alguns felizardos conseguiam se refrescar com jatos d’água lançados por membros do bloco ou por foliões que levaram esguichos.
Foliões afirmam que chegaram à fanfarra ao buscarem um ambiente seguro para a família e que enaltecesse marchinhas de Carnaval.
A enfermeira Tatiana Giovanni, 45, nasceu no bairro, mas esta foi a primeira vez que foi ao bloco, convencida pela filha que sempre o elogia.
“Esta é a região em que nasci e fui criada. É um clima mais familiar, mais tranquilo com criança, não tem briga e mantém a tradição de Carnaval de rua”, diz ela, que, além das filhas, levou amigos para curtirem a folia.
Uma situação semelhante aconteceu com Elaine Xavier, 40. A filha pedia para conhecer o Carnaval e ela e o marido decidiram levar a pequena, que foi com saia tutu e espirrava spray de espuma a sua volta.
Com elásticos neon, Vera Lúcia Atencio, 59, elogiava o bloco e o clima de folia. “Carnaval é alegre e colorido. Aqui, tem criança, tem jovem, tem velhos como eu”, dizia ela, que já frequenta o bloco há anos.
Apesar de se animar com o local, ela lamenta que a divulgação constante do bloco tenha deixado ele cheio de foliões. Ela gosta de música brasileira, mas diz que precisa ser em ritmo animado, para agitar a multidão. “Ninguém quer parar, todo mundo quer dançar.”
Bruno Amorin, que vive na zona norte paulistana, decidiu levar a namorada Aline Pontes, que é de João Pessoa, Paraíba, para conhecer o cortejo.
No sábado, eles estiveram em um bloco no centro da capital paulista, porém saíram com a impressão de que faltou estrutura na festa, como banheiros, distribuição de água e música que chegasse a todos os foliões.
“Estar muito cheio é normal, mas aqui está muito organizado”, diz Aline. Bruno concorda e considera que não viu metade da distribuição de água no centro como no cortejo da zona norte.
Diferentemente da maioria dos cortejos, manifestações políticas e torcida pelo Oscar não foram tão presentes por lá.
Porém, em determinado momento, cantores gritaram “sem anistia” e um dos artistas ergueram um placa escrito “sem anistia para golpistas”.
Também cantaram a música tema do seriado “Tapas e Beijos”, protagonizado por Fernanda Torres e pediram que o público fizesse barulho pela atriz. “Hoje, nós vamos ganhar o Oscar”, disse o cantor durante o cortejo.
noticia por : UOL